
UMA EXPLICAÇÃO
SOBRE TERAPIA FAMILIAR
Conceito de família
A família é uma unidade fundamental que acompanha a
formação e o desenvolvimento do ser humano. É composta
por pessoas que estabelecem entre si profundas ligações
emotivas, que são naturalmente complexas e diferentes ao
longo da vida e muitas vezes unem várias gerações,
podendo possuir elementos que, não tendo ligação
biológica com a família, são afectivamente muito
importantes no enredo das relações familiares.
A família designa assim um conjunto de elementos
emocionalmente ligados entre si.
O que é a Terapia Familiar?
A Terapia Familiar é um diálogo que se constrói e
desenvolve no tempo, envolvendo um terapeuta disponível
e uma família normalmente em grande sofrimento.
É uma procura de novas alternativas que não passa por
resolver problemas e corrigir erros mas, principalmente,
por colocar em evidência a competência da própria
família, activando a sua participação na resolução dos
seus problemas.
O Terapeuta não transforma mas suscita ocasiões
favoráveis à mudança.
Como é o funcionamento na
prática?
O processo terapêutico é diferente porque todas as
famílias são diferentes, mas no que respeita ao
funcionamento, no modelo clássico reúne-se toda a
família nuclear, ou os elementos que vivem em conjunto,
com o objectivo de retratar e situar toda a dinâmica
daquela família, existindo espaço para que todos abordem
as suas sensações e em simultâneo conhecer a experiência
que os outros possuem na relação familiar entre si.
Não obstante os elementos preferenciais serem os acima
descritos, deverá existir sempre a possibilidade de
flexibilizar sobre quem pode estar nas sessões, por
exemplo juntando os irmãos, ou só os pais, ou só os avós
e netos, ou mesmo outros elementos que, embora não
pertençam à família, têm uma relação significativa ou
desempenham um papel importante no desenrolar da vida
familiar.
A Terapia Familiar não é uma terapia à família mas com a
família.
Que famílias procuram ajuda?
De uma forma geral , quando acontece na vida da família
uma situação preocupante, ou quando as pessoas não
conseguem ter relações satisfatórias.
Muitas vezes o pedido de ajuda é feito junto de um
médico, de um professor ou de outro técnico, e é depois
deste primeiro pedido que é sugerida a Terapia Familiar.
Não existindo muitas respostas das Instituições de saúde
para o apoio às famílias, existem cada vez mais
profissionais com formação específica nesta área do
trabalho com famílias e também com muita sensibilidade
para o desenvolver, pois também a formação faz um apelo
muito forte a este aspecto.
Quando se inicia o processo
terapêutico?
O processo terapêutico em Terapia Familiar inicia-se com
o pedido de terapia realizado pela família, ou por um
dos seus membros.
Como é realizado o pedido?
O pedido é realizado por telefone pelos interessados ou
por indicação de profissionais que conhecem a família e
em simultâneo a abordagem sistémica. Tanto num caso como
noutro este primeiro contacto reveste-se da maior
importância pelo que para além dos dados relativos ao
contacto posterior com a família ( nome, morada,
telefone, …) é registada a composição do agregado
familiar , idades e situação escolar e profissional dos
diferentes elementos.
Após recolha dos dados de identificação e composição
familiar, importa ainda conhecer o motivo que leva ao
pedido de ajuda e qual a ideia de que o nosso
interlocutor tem sobre o problema.
Esta breve descrição vai permitir conhecer o problema
que nos surge como inicial, qual o elemento da família
sobre o qual recai a preocupação, bem como a formulação
de algumas hipóteses de trabalho que poderão ou não vir
a ser confirmadas após a primeira sessão. Aliado ao
pedido expresso por vezes existe um pedido latente que
só será percebido na dinâmica com a família.
Em que momento é procurada a
ajuda?
Quando as pessoas procuram ajuda acreditam que sozinhas
não conseguem resolver os problemas que as preocupam e,
muitas vezes, esse pedido surge quando a situação toma
proporções muito grandes e o sofrimento se torna
insustentável.
Qual o contexto de atendimento
à família?
O trabalho com a família decorre em sessões cuja duração
oscilará entre os 50 e os 60 minutos e em que estarão
presentes todos os elementos da família nuclear ou
alguns deles, ou ainda elementos da família alargada ou
elementos significativos para a vida da família em
análise.
A ordem e o critério destas presenças relaciona-se
directamente com o desenrolar das sessões, a história
das famílias e o significado que outros elementos de
relacionamento próximo possam ter para a mesma. Nada é
pensado sem o contexto em que a sessão decorre e as
relações que a família nos traz como material de
trabalho.
A sala de terapia familiar deve corresponder a um espaço
amplo, térmico e confortável e deve contemplar um espaço
em que as crianças que venham à sessão possam ocupar-se
ludicamente, com o objectivo de não existirem obstruções
ao processo terapêutico pela exigência de atenção às
mesmas que rapidamente se podem cansar por se
encontrarem num espaço que lhes é monótono.
Relativamente ao mobiliário deve optar-se por um estilo
sóbrio e pela existência de várias cadeiras, a utilizar
uma por membro da família e pelos terapeutas, as quais
devem ser confortáveis, iguais e dispostas em círculo.
É ainda possível que o espaço das sessões possua um
espelho unidireccional, forrado com uma película que
permita que de uma sala contígua a sessão seja
acompanhada sem que, não obstante a autorização da
família, os intervenientes se sintam observados e por
isso condicionados na sua dinâmica, ou ainda que seja
utilizada uma câmara de filmar que permita efectivar o
registo da sessão num filme que posteriormente é
visionado pela equipa e serve de base à intervenção
posterior, sendo a gravação da sessão sujeita,
igualmente, à autorização da família.
Qual a actuação dos Terapeutas?
O Terapeuta Familiar pode actuar sozinho ou em
co-terapia, sendo esta última a que permite maior
criatividade nas sessões, dado que estando dois
terapeutas na sala um pode assumir um papel mais activo
enquanto o outro o sustenta em temos das intervenções.
Se existir uma co-terapia é desejável que a mesma se
componha por um casal de terapeutas pois assim as
presenças em número de género masculino e feminino ficam
mais homogéneas e será menos desconfortável para a
família, ou seja, trabalhando um casal se os terapeutas
forem ambos homens ou mulheres existe uma desvantagem
para um dos elementos da família, o que pode condicionar
o à vontade.
Qual a dinâmica das Sessões de
Terapia Familiar?
As sessões de Terapia Familiar devem constituir um
desafio à "metacomunicação" em que o terapeuta solicita
informação à família de uma forma interactiva, ou seja
para saber das relações existentes entre os elementos C
e D coloca a questão ao elemento A.
A base da sistémica é a circularidade pelo que todos têm
uma quota parte de responsabilidade no problema, o que
cada elemento refere sobre a situação para a qual é
pedida ajuda é apenas uma versão, a de cada um.
Esta técnica é surpreendentemente eficaz porque as
pessoas falam mais facilmente sobre os outros do que
sobre si próprias. A "metacomunicação" sobre a relação
de dois outros elementos da família, na sua presença vai
tornar possível a obtenção de informação muito variada e
rica que traduz relações.

1ª Sessão
A 1ª sessão tem uma forte componente social e existe a
preocupação dos terapeutas no acolhimento à família.
O ambiente é descrito e explicada a eventual presença da
câmara de filmar ou de alguém atrás do espelho.
A família que pela primeira vez participa numa sessão de
Terapia Familiar não conhece o modo de funcionamento da
mesma, o que a pode colocar numa situação de
desconfiança, pelo que é importante que os terapeutas
reforcem as reduzidas informações que a família possuía
sobre o desenrolar das mesmas.
Após criadas as condições favoráveis à intervenção o
terapeuta vai questionar os diferentes elementos da
família sobre o motivo que os traz à consulta e também
sobre o que cada um pensa sobre a sua família.
A mãe deveria ser interpelada em último lugar pois regra
geral é ela que possui uma informação mais vasta.
2ª Sessão
Após o contacto e entrevista inicial, o 2º encontro com
a família é marcado para cerca de 15 dias depois. Neste
intervalo de tempo a família conclui se deve voltar ou
não a uma segunda sessão, conclusão essa condicionada
pela relação e empatia com os terapeutas, como também
pela postura e opinião dos diferentes elementos da
família, quer pela sua posição no sistema, elemento
familiar mais determinante ou não, quer pelo sentir do
elemento identificado.
Na Segunda sessão solicita-se que a família resuma a
sessão anterior, o que possibilita verificar a
existência de alterações e o cumprimento ou não das
eventuais prescrições, é abordado o decorrer entre uma
sessão e outra e circularmente cada elemento vai
expressando o seu sentir.
As futuras sessões espaçam-se de 3 em 3 semanas ou
ocorrem mensalmente, contudo esta distância não é rígida
e também varia de acordo com as características da
situação e da família, sendo por isso ajustável e
passível de ser mais ou menos espaçada. È possível que
ao longo do processo terapêutico se encontrem etapas de
“manutenção” e que estas se verifiquem trimestral ou
semestralmente.
A partir da 2ª sessão a origem do pedido pode ser
redefinida e o terapeuta enquadrará o sintoma numa
perspectiva diferente, no entanto esta intervenção deve
ser cuidadosa pois pode constituir desagrado à família
que tão prontamente apresenta um único problema e é esse
em exclusivo que quer ver abordado no espaço da
consulta.
As famílias de origem
A Terapia familiar pode envolver a necessidade dos
terapeutas conhecerem as famílias de origem, o seu
genograma, a sua história, as suas experiências e o seu
modo de vida e valores transmitidos. Às vezes resulta
importante convidar elementos da família alargada para
participarem nas sessões.
A pausa nas sessões
Em sessões que se presenciam momentos de grande tensão é
importante que os terapeutas façam uma pausa, saiam da
sala e em conjunto possam reestruturar a sua
intervenção. De resto estas pausas podem revestir-se de
importância caso um dos
terapeutas necessite partilhar com o outro as suas "confabulações"
sobre o desenrolar das sessões.
As alianças
Os elementos da família por vezes tentam manter uma
aliança com os terapeutas ou apenas com um deles de modo
a obterem a sua protecção e aprovação e, de facto, em
certos momentos é importante que o terapeuta corresponda
a esse desejo. Nessa situação o outro técnico deverá
aliar-se a outro dos elementos, de acordo com as
necessidades sentidas com a intervenção, para que seja
estabelecido um equilíbrio.
O Final das sessões e as
Prescrições
No final da sessão a família tem expectativa face ao que
os Terapeutas sentiram relativamente ao que foi dito
pelo que, o que foi dito e trabalhado deve ser
comentado, contudo não é necessário que a família leve
“algo para casa” dado pelo terapeuta, o que importa é
que sinta que este a escutou e compreendeu.

Quando é que o trabalho com a
família se concluí?
A dinâmica das sessões varia de família para família e
de terapeuta para terapeuta, não existem prazos
estanques e nem podem existir pois a família tem a sua
opinião a dar, a qual é integralmente respeitada visto
que o sucesso das sessões depende da sua adesão às
mesmas.
Assim, o momento que o terapeuta entende para finalizar
o trabalho com dada família nem sempre corresponde ao da
própria família.
O Terapeuta prevê que o trabalho com a família seja
concluído quando o seu ciclo vital foi ultrapassado e os
elementos passaram a estar noutro registo e a
relacionar-se respeitando-se uns aos outros, contudo,
sendo a terapia familiar um processo que supõe o
despender de muitas energias e sobretudo aceitar a
mudança, verifica-se que a família por vezes sofre muito
para atingir estes resultados, factor que associado ao
próprio grau de envolvimentos dos seus elementos pode
condicionar a continuidade das sessões e aí a família
poderá decidir a todo o momentos não voltar.
Acontece ainda que o não querer voltar é porque de facto
com um conjunto curto de sessões a família também passou
a sentir-se diferente e naquele momento aquela diferença
ser quanto baste.
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